Contos londrinenses:

Leitura e interpretação da obra Escândalos da Província de Edison Máschio, primeiro romance londrinense que retrata a sociedade na década de 50>>> leia aqui

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Crônica como História

CRÔNICA COMO HISTÓRIA
Cultura e prosa em Londrina nos anos 50

Paulo de Tarso Gonçalves
Professor de História
detarso10@hotmail.com



“E é por isto que a esse vencedor miraculoso não lhe daremos
as batatas de que teve medo e antecipadamente zombou.
Damos-lhe o nosso culto. E o nosso orgulho também”.

Mário de Andrade
Aspectos da literatura brasileira



A crônica como gênero literário tem assumido um grande valor histórico, pois seu caráter de gênero específico e autônomo tem contribuído às pesquisas históricas. Os historiadores têm com freqüência recorrido a esse gênero para auxílio em suas investigações do passado e tem reconhecido nas inspirações dos cronistas uma fonte legítima na busca do conhecimento da realidade histórica de uma determinada sociedade. Desse modo pode-se dizer que a crônica é na sua essência, uma forma de arte, manifestada através de palavras, com um sentido forte de lirismo.

O significado desse gênero ultrapassa mais de um século, pois antes de ser concebida como arte relacionava-se com o relato cronológico dos fatos sucedidos em qualquer lugar. Em grego “Cronos” designava tempo, daí a crônica ser compreendida como gênero histórico. Mas, esse conteúdo há muito desapareceu, permitindo mudanças de sentido que atualmente estão estritamente vinculados ao campo exclusivo da literatura. “Ela passou a obter um significado mais preciso, embora polêmico, como um gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima ante o espetáculo da vida, das coisas e dos seres”.(1)

Do espetáculo da vida, a crônica começa ocupar um espaço na imprensa jornalística. Daí há uma grande discussão sobre a dificuldade de sua classificação, enquanto gênero literário ou histórico. Como gênero literário possui relativa autonomia, advindo da imaginação criadora, visando naturalmente o despertar estético e não o interesse de informar, ensinar ou mesmo orientar o leitor.

Nesse aspecto, contrário ao estilo jornalístico, a crônica só utiliza o fato como pretexto, enquanto o jornalismo vê no fato seu objetivo, a matéria em si. O cronista quando recorre ao fato é para retirar o máximo proveito, como um objeto para a imaginação, isto é, para ser recriado. É nesse sentido que a crônica teve que superar suas condições jornalísticas, buscando construir uma vida além da notícia, seja enriquecendo a notícia com elementos de tipo psicológico ou como humor.

Assim a crônica adquire uma forma literária autônoma, comunica-se através de uma linguagem dos indivíduos na sociedade. Trata dos pequenos detalhes da sua vida social, fazendo um relato em permanente relação com o tempo, de onde tira, como memória escrita, sua matéria principal, o que fica do vivido. Isto pode ser aplicado ao discurso da história porque sua constante atividade crítica movimenta o exercício da lembrança e da escrita.

Nesse sentido, a crônica pode ser caracterizada como ferramental útil para realizar um estudo histórico de uma sociedade. A ordem e sua coerência não são elementos de distinção, pois seu caráter de ambigüidade faz dela um gênero específico na literatura o qual, não raro, a conduz ao conto, ao ensaio, por vezes, e, freqüentemente, ao poema em prosa. Desse modo, as crônicas não são puro jornalismo ou reportagem. Somente a ligação com a vida cotidiana é que situa a crônica bem próxima do jornalismo, mas diferenciando-se por não ter aquela característica impressionista, de experiência de choque, transmitida como uma mercadoria para o consumo em massa.


O cronista, artista solitário perdido no mundo da informação, busca na crônica o meio de satisfazer seus desejos, suas emoções, seus sonhos irrealizáveis e através dela manifestar seu descontentamento com os projetos de vida compostos no interior de sua sociedade. E, pode se dizer que, é difícil encontrar homens que consigam se comunicar melhor que o cronista. A crônica, esse meio comunicativo, insinuante e ágil é por natureza a arte do cronista. Arte da palavra buscando transformar o significado do dia a dia presente na vida dos homens e mulheres de toda uma comunidade.

Nesse sentido, a crônica constitui-se fundamentalmente como um gênero literário, que fala do tempo e da vida humana, que conserva na memória pequenos dias vividos pela sociedade. Situa-se justamente além da notícia, mas no limite da transmissão de experiências vividas pelos homens em sociedade. Em suma, “situa-se bem perto do chão, no cotidiano da cidade moderna, e escolhe a linguagem simples e comunicativa, o tom menor do bate-papo entre amigos, para tratar das pequenas coisas que formam a vida diária, onde às vezes encontra a mais alta poesia”. ( 2 )

Expostas as principais características da crônica, cuja função é relatar literariamente pequenos acontecimentos de uma sociedade, faz-se necessário recorrer aos cronistas londrinenses que construíram imagens sobre a cidade. Como veremos, alguns tomaram como referencial da modernidade em Londrina, o surgimento, a evolução e a expansão da imprensa local. Outros revelaram interesse pelo desenvolvimento da cultura e por experiências dos anônimos que aqui desembarcaram. Deixemos falar o cronista:


<<<>>> Crônica como História

2 comentários:

Anônimo disse...

Valeu, e daí cara?

Flávio disse...

Fala sr. Paulo, gostei bastante dessa primeira parte do texto, e quando terminar de ler as continuações, pretendo comentar mais.
Realmente a crônica, em sua essência, nada mais é do que uma maneira de manifestar ideias, opiniões, e, até mesmo algum desabafo mediante a determinados fatos e atitudes relacionados a sociedade atual, ou de tempos atrás.
Por essa mesma razão ela não pode deixar de ser considerada uma arte, pois segue o padrão de conceito que qualquer outra forma de arte segue.
Como uma forma de arte a crônica passa a ter um carater influente, pois trabalha diretamente com o sentimento, tornando-se por vezes um apelo emocional, e com isso tanto no gênero literário como no jornalístico, ela passa a ser trabalhada como forma de alienar, manipular ideias, pensamentos e com isso a visão dos fatos determinada para a sociedade.

é isso ae, Paulo, desculpe escrever tanto, huehuehue, continua firme com o blog cara, é um tema de extrema relevância. Um abraço!